
A importância do descanso emocional no processo migratório
Emigrar é uma experiência intensa. Embora possa ser repleto de entusiasmo e novas oportunidades, também envolve grande tensão emocional. E muitas vezes, entre papelada, adaptação, trabalho e responsabilidades diárias, a última coisa que fazemos é parar.
Como psicóloga (e como alguém que também já cruzou fronteiras), quero falar com vocês sobre algo que nem sempre é mencionado: o descanso emocional. Porque não é só o corpo que se cansa, a mente também. E fazer uma pausa não é um luxo, é uma necessidade.
O cansaço que não se vê, mas se sente. Talvez isso esteja acontecendo com você:
- Você acorda e já está exausto.
- Você chora “sem motivo” ou fica irritado facilmente.
- Você sente que não consegue pensar com clareza, como se sua mente estivesse nublada.
- Você faz tudo o que “tem que fazer”, mas não gosta.
- Você tem dificuldade de se conectar com outras pessoas, até mesmo consigo mesmo.
O que você está sentindo pode ser uma sobrecarga emocional. E não há nada de anormal nisso: quando emigramos, estamos em um estado de alerta quase constante. Tudo é novo, incerto ou diferente. Seu cérebro trabalha duas vezes mais, mesmo que você não perceba. Você não está falhando. Você está exausto. E isso merece ser ouvido.
O que é descanso emocional?
Não se trata apenas de dormir (embora dormir bem ajude muito). Descansar emocionalmente significa nos permitir relaxar as demandas internas, reduzir estímulos, desconectar do "fazer" constante e retornar ao nosso centro, mesmo que apenas por um breve período.
Trata-se de desacelerar o mecanismo mental que constantemente se preocupa, planeja, compara e se autocritica.
E não, não é egoísmo.
Não é perda de tempo.
É recarregar energia para nos sustentar.
Como podemos nos dar um descanso emocional se a vida não para?
Eu sei que muitas vezes não é fácil encontrar tempo. Mas não se trata de fazer grandes retiros espirituais, mas sim de pequenos gestos que fazem a diferença. Aqui estão algumas ideias simples, mas eficazes:
- Pratique a pausa consciente: reserve 5 minutos para respirar profundamente. Isso é tudo. Feche os olhos, inspire lentamente e expire mais lentamente. Eu repeti. Parece pouco, mas é muito.
- Desconecte-se por um tempo: desative as notificações. Silencie aquele grupo do WhatsApp se ele te satura. Permita-se ficar offline por um tempo.
- Encontre seu refúgio diário: pode ser uma xícara de chá, uma caminhada silenciosa, ouvir uma música relaxante ou assistir a uma série que te faça rir. Um pequeno espaço onde sua mente pode descansar.
- Falar sem resolver: Às vezes, relaxamento emocional também significa dizer: “Não preciso de soluções, só quero compartilhar como me sinto”.
Um exercício simples: “Meu kit de pausa”
Proponho algo muito prático para você. Pegue uma caneta e papel, ou abra um bloco de notas no seu celular e preencha isto:
- Uma atividade que me relaxa (mesmo que dure 10 minutos):
- Uma pessoa com quem posso conversar sem explicações:
- Um lugar — real ou simbólico — onde me sinto seguro:
- Uma frase que me lembra que não preciso fazer tudo perfeitamente:
- Algo que posso parar de fazer por hoje, sem culpa:
Salve essa lista. É o seu "kit de descanso" para dias difíceis. É um lembrete de que você não precisa fazer tudo o tempo todo.
Uma reflexão pessoal
Quando emigrei, houve momentos em que senti que não conseguia parar. Que se eu relaxasse, eu cairia. Mas aprendi algo importante: descansar não é desistir, é cuidar de si mesmo.
E se tem uma coisa que descobri ao longo do caminho, é que quando faço uma pausa, consigo me ouvir melhor. Posso me comportar de forma mais gentil.
E a partir daí, tudo — embora ainda desafiador — fica um pouco mais leve.
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Seu canto sem bordas foi criado justamente para isso: para lembrar que você não está sozinho. E que você pode se dar um abraço, mesmo no meio do caos.
—Paula
Psicóloga e cofundadora da Almas sin fronteras